sexta-feira, setembro 01, 2006

Sobre Portugal Parte II

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!


Fernando Pessoa

1 comentário:

Carla disse...

Não creio ser necessário esperar algo dignificante para se começar a falar de Portugal. Em primeiro lugar, teríamos que aguardar bastante. Em segundo, não concordo com quem apregoa que falar mal do próprio país é um insustentável sacrilégio, punível com exílio ou mesmo pena capital. Há que falar sobre tudo, seja bem ou mal. O tabu é um entorpecedor de mentalidades.
Tenho dito.