segunda-feira, setembro 04, 2006

Tecendo considerações

Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendoIlusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

Pergunta: em que ponto da vida é que algumas pessoas se esquecem destas coisas, e, em vez de recomeçar por outra estrada, dão um passo em frente para o abismo, e, em vez de dar os passos em liberdade, os dão presos pelos fantasmas do passado, e tudo o que fazem é repetir os próprios erros vezes e vezes sem conta sem perceber sequer porquê? E porque é que desconfiam e têm medo das ilusões do pomar? E trocam os sonhos e a aventura pelas próprias mãos vazias e um sentimento de resignação? Porque é que não sabemos ser loucos, ou reconhecer-nos na nossa loucura? E porque nos contentamos com uma metade de um fruto que nos torna todos os dias mais infelizes?